Saturday, May 31, 2008

Ah, esse odor anódino deste cognac



Oiço muita gente a dizer, num anseio sonhador, que "davam um testículo" por x ou por y. Gostava, bastante, que se deparassem com esse hipotético cenário, de faca afiada na mão.

Dia 10 de Julho, se ainda não estiver a trabalhar em África ou num talho, vou estar em Oeiras.
Do cartaz, vejo-me cometido numa erecção emocional com os seguintes nomes:
CSS
THE NATIONAL
MGMT
HERCULES AND LOVE AFFAIR

E aqui tão perto de casa, posso ir a pé, se até lá não os tiver perdido ou vendido por uma bela maquia.

Ah, dentro de uma semana estarei na Suiça a torcer. Deixem recados com a minha secretária, em braille.

Deixo-vos com uma música filha-da-puta de boa.

Monday, May 26, 2008

O que vês?





-o que vês?

-a morte, que, cercando tudo o que nos é conhecido, não nos dá chance de não cedermos ao seu pedido. diz-me: dá-me a mão. procuro em volta. nada. a sua mão nada tem de assustador. não é uma ossada, não é velha, é a mais bela mão em que alguma vez pousaste o olhar. ao lhe tocares, toda a ansiedade se esvai e sabes que chegou a tua hora. paras de lutar, paras de pensar. aceitas, porque te sentes em paz, uma paz que nunca sentiste em vida. sabes que chegaste a casa, sabes que toda a tua vida foi um caminho que te conduziu a este momento. então olhas a morte nos olhos: ela sorri-te, e tu sorris de volta. estás morto.

-e tu, que vês?

-um pénis.

Sunday, May 25, 2008

Lavagante

"O lavagante é principalmente um animal de tenebrosa memória, paciente e obstinado, e terrível nos seus desígnios. (...) serve o safio que está nas tocas submersas levando-lhe comida a todas as horas, e como a sua existência anda presa a essa serpente estúpida de grandes sonos, vendo-a engordar, engordar, até saber que a tem bloqueada, incapaz de sair do buraco porque o corpo cresceu de mais enovelou-se, e não cabe na abertura por onde podia libertar-se. Nesse momento, fica sabendo, o lavagante servil aparece à boca da toca do safio mas já não traz comida. Vem de garras afiadas devorar o grande prisioneiro que alimentou durante tanto tempo."


José Cardoso Pires, Lavagante

Saturday, May 24, 2008

Sushi


(que sushi pobre se faz em Portugal...)


Viveria em Nova Iorque só pelo sushi.


(e quem não come sushi como deve ser comido, com aquele wasabi que ocasionalmente nos comove, não pode atravessar o oceano comigo. A referência à big apple prende-se com o facto de ainda não ter jantado no japão.)


ps: weekend wars dos MGMT, que música soberba.

Sunday, May 11, 2008

O caminho de casa

Veja-se a força persuasiva do ar após a trovoada! Os meus méritos impõem-se-me e obcecam-me se eu não resistir.
Caminho a passo de marcha e o meu ritmo é o ritmo deste lado da viela, desta viela, deste bairro.
Sou, com razão, responsável por todas as pancadas contra as portas, sobre os tampos das mesas, por todos os brindes proferidos, por todos os casais de amantes nas suas camas, nos andaimes de prédios em construção, em vielas escuras contra os muros das casas, sobre as otomanas nos bordéis.
Avalio o meu passado em função do meu futuro, acho, no entanto, ambos excelentes, não consigo dar preferência a nenhum deles e apenas a injustiça da Providência que tanto me favorece devo censurar.
Só quando entro no meu quarto, fico um pouco pensativo, porém sem que enquanto subia as escadas tenha encontrado algo digno de reflexão.
O que não em ajuda muito é abrir completamente a janela e ouvir que num jardim ainda se toca música.

Franz Kafka

Thursday, May 1, 2008

Aquele abraço



Aquele... qual?

Para além do título duma canção de Gilberto Gil, "aquele abraço" revelou-se-me hoje como imagem de marca de António Sala, "o grande comunicador".

O que significa isto? que T.S. (António Sala tem como diminutivo Tó Sala, que tem como iniciais T.S., designação adoptada daqui em diante) é o pai duma das despedidas mais "pseudo-fixes" em língua portuguesa, juntamente com "hasta" e "ficah" (com H para, claro está, arrastar o A) - pseudo dada a dispersão de opiniões e o facto de hasta não ser português.

Pesquisando T.S. na internet, cedo nos é revelada a inveja forasteira por este nosso grande nome do audiovisual. Países como o Chile, parco em talentos, não hesitam em pintar gritos de terror protestante nas suas estátuas milenares, os moais.

do Chile esperava-se um protesto com um pouco mais de chá.

A minha resposta natural é um ardente "buuuuu", seguramente secundado por todos vós.
Deixar isto passar incólume é um não-acto apenas comparável na minha mente ao sim-acto de um furtivo anavalhar de T.S. pelas costas!

T.S. pode estar desaparecido dos ecrãs, mas mantém a sua mão acariciadora presente, afagando o público incessantemente, como um deus omnipresente. E no dia em que parar, no dia em que esses chilenos levarem a melhor, caros amigos, no dia em que este nosso ladino e carismático amigo se silenciar, este país secará até à aridez da cavidade bocal de uma velhota fumadora de 95 anos -algo mais banal? Isto é uma promessa que vos faço: T.S. e banalidade são inversamente proporcionais.

Chamar T.S. de cocó líquido não só é revoltante, como dúbio: cocó líquido tem nome, diarreia. E diarreia, por muito asquerosa que seja a mera menção do seu nome, por mais visões em tons de pastel que tenhamos à segunda sílaba, tem direito, como tudo o resto, a existir. E quem batalha contra a diarreia é nada mais do que um assassino comparável a quem usa o seu alvo como ofensa a T.S.! Sim, falo de ti, imodium.
Quem vive no mundo da publicidade e quem não vive no mundo da publicidade já deve ter ficado pensativo após o anúncio que passou na televisão. Uma das regras antigas, muito antigas da publicidade, é dizer suficientes vezes o nome do produto, para que se fixe na mente do consumidor. Assim, quando o pacóvio estiver no supermercado e se vir diante de 30 produtos semelhantes, algo clicará na sua mente, alguma familiaridade fabricada por uma teoria publicitária.
Ora repetir o nome do produto, se bem que retrógrado, não é reprovável nem idiótico. Repetir num anúncio de 30 segundos a palavra "diarreia" por 8 ou 10 vezes, é.
Algo do género:
"Quando estás na fila do teatro e te dá a diarreia e a tua amiga está quase a chegar e a diarreia provavelmente chegará antes dela e ainda se encontram as duas no hall da sala, a amiga e a diarreia, e a diarreia diz-lhe, secamente: estás com má cara; e a amiga desfaz-se em lágrimas. Como não vais querer isto, acaba já com a diarreia, toma imodium rápido, que acaba com a diarreia e com os efeitos nocivos da diarreia em ti e nos teus num ápice."

E com isto parece-me que provei aquilo que me propús no início deste post: António Sala, és rei e senhor e a televisão portuguesa não te merece. Nem à tua mulher, sempre aprimoradamente engalanada. Nem ao teu filho, que imita o Pato Donald como poucos. Saúdo-te.