Sunday, March 9, 2008

The Blue Oyster º




Apesar do mundo continuar maioritariamente trajado com o seu vestidinho heterossexual, é difícil não reparar num progressivo encurtar de mangas. Não só todo o modo de vida gay está a escapar do armário, como cedo erguerá os braços em pleno mainstream.

"Essa gentalha, paneleiros nojentos" - dirão ainda hoje muitas pessoas. Demasiadas. Ainda mais diriam "Isso não se escreve num blog, que vem a ser isto, poluir-me os olhos assim tão gratuitamente..."

Um aparte: Há um par de anos passeava pela Chueca de Almodóvar (um daqueles a quem é devido um eterno agradecimento pelo movimento gay supracitado), onde fui beber uns copos com uns amigos que de lá saíram enojados por demonstrações públicas de afecto. Tudo bem. Independentemente do sexo dos intervenientes, sou contra linguados na via pública. Salazarista pró-casamento gay?

Não és mais nem menos do que todo o mundo actual, lavagante. És somente uma opinião. Pior: a tua opinião é totalmente descurada de sentido lógico e prático! Estás-me a fazer perder tempo para pentear o bigode. Com licença.


Estou actualmente a meio de uma mini-série da HBO chamada "Angels in America" sobre um tema (infelizmente) siamês ao deste post: a sida. Mais propriamente a sida entre a comunidade gay novaiorquina na década de 80. Al Pacino é um advogado famoso com a doença em fase terminal que, para salvar aparências, pede para chamarem de "cancro do cólon". Como quem cai duma cadeira abaixo. Quando acabar de a ver decidirei se a recomendo. Quem sabiamente não se guia por mim, devia alugar os dvds.

Isto tudo porquê? Apenas uma constatação mais do que óbvia. Há uns anos ouvia-se dizer "desde que o meu filho não seja maricas, fico feliz". Pai conservador segue a sua palavra e larga lágrimas de felicidade quando enterra o filho toxicodependente. "Pelo menos era virgem no rego" diz, rato, ao seu amigo Edgar, cujo rebento é bailarino.

"nanananananananananananana (tapando os ouvidos e fazendo um som aleatório) ......não estou a ler isto... alusões anais? ...Deus me valha"

Mas o mundo continua a rodar e graças a Almodóvares & cia. cedo tal não será tema de preocupação. Ao impedir o casamento gay estamos a adiar o inevitável. Não falo do casamento pela igreja, que se rege desde sempre por ensinamentos seculares que são a base da sua desertificação e não se coadunam com este tipo de "vanguardismo". "Mas que raio estás para aqui a dizer? de onde aparece isto tudo? o teu raciocínio não tem fio lógico. Agora vais passar para a separação do Estado e da Igreja como prova inequívoca da dita desertificação?"

Adiante. Hoje a voltar para casa, numa rua como qualquer outra - com passeios dos dois lados e estrada no meio - cruzei-me com 2 homens. "Casaco manhoso" - pensei sobre um enquanto o meu olhar se perdia pelo lado oposto, numa c+s encarnada.
"he's cute" - ouvi um a sussurrar e não liguei, pois não se enquadrava na minha lógica de pensamento e não achei que fosse sobre a minha pessoa.
"hey puppy, you're cute" - disse o outro, claramente o gay mais espampanante do casal.

Pronto, cá está o real propulsor para a escrita deste texto. Contentes? Estava com falta de piropos e apareceu, não da forma desejada, mas sempre apareceu.

De qualquer modo, agrada-me o facto de saber que se por acaso o meu filho nascer gay (e agrido violentamente com um tijolo na cabeça quem me vier com a teoria de que é uma doença ou uma mera opção), irá nascer para um mundo rosa-choque (shock?), nem que o tenha que exportar para Nova Iorque, onde confraternizará com Antony e Wainwright.

E pronto, assim termino o meu post mais Lynch até ao momento (agradável como se tornou aceitável utilizar pessoas como adjectivos), na esperança de que ao voltar a Lisboa dentro de um mês encontre a minha Maggie Gyllenhaal. Au revoir.


ps: blue oyster, título do post, é uma alusão ao bar gay no filme "academia de polícia".

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